É uma das obras mais conhecidas e emblemáticas de Camilo Castelo Branco. Trata-se de uma contundente sátira socio-civilizacional, na qual o genial romancista se compraz, de forma particularmente mordaz, irónica e cómica, em rastrear os vícios do Portugal Oitocentista, seja ele rural ou citadino. O protagonista, Calisto Elói, figura anacrónica, quixotesca, à conta de ler o mundo a partir dos livros da sua abundante biblioteca, alguns bem bafientos, advoga um regresso aos bons costumes do antigamente, abominando a modernidade e o progresso. Eleito deputado, parte para Lisboa, imbuído da missão de morigerar os costumes. Tal, porém, não acontece. A transição revelar-se-á fatal no ideário moral do protagonista: engendrará, com efeito, uma imprevista detonação sentimental na personagem, que desencadeará, por sua vez, uma drástica mudança comportamental em Calisto. Apaixona-se por uma jovem e atraente brasileira, cedendo à tentação do desejo, e acaba por renegar tudo o que até então defendia. Numa palavra, tornou-se num homem do seu tempo, igual a tantos outros – e assaz representativo da sociedade de então.

Nascido em 1825, em Lisboa, Camilo Castelo Branco estreia-se nas letras em 1845, sendo o seu primeiro romance, Anátema, de 1851. Será o início de uma carreira intensa e, a todos os níveis, impressionante. Dotado de uma capacidade prodigiosa para efabular a partir da observação da sociedade, a sua produção literária é tão quantiosa quanto diversa: novelas, romances, peças de teatro, poesia, crónicas, ensaios historiográficos, polémicas, etc. Uma obra vasta e de excecional qualidade, fazendo do escritor, a justo título, um dos gigantes literários do século XIX. Não por acaso, Unamuno considerou-o o primeiro romancista da Península Ibérica. Cego e impossibilitado de escrever, o genial romancista acabará por se suicidar com um tiro de revólver a 1 de Junho de 1890.

Dinamizador
Professor Sérgio Guimarães de Sousa

ELACH/DEPL